segunda-feira, 29 de março de 2010

Morre Armando Nogueira


Galera Tricolor, o grande jornalista Armando Nogueira, de 83 anos, morreu na manhã desta segunda-feira, no Rio de Janeiro, onde morava. Nogueira sofria de câncer desde 2007, qdo descobriu a doença e andava meio afastado do mundo do futebol. Amarndo Nogueira era um dos grandes e mais respeitados jornalista, com isso fica aqui os meus sentimentos por essa perda.

Segue abaixo uma homenagem ao grande Armando Nogueira:

"A voz que lateja"


"O Fluminense cai pra Terceira Divisão. Dito assim, em breve oração, soa como um fiapo de conversa. Papo de segunda-feira chuvosa. Pra chatear tricolor, os irônicos dizem que, felizmente, não existe a Quarta Divisão.

Mal se dão conta de que o desterro de um grande clube não é um martírio solitário. Por tabela, atinge todo mundo. O Flamengo nunca seria o mesmo se não tivesse a fustigá-lo o tenaz fervor do Fluminense. Os dois criaram, juntos, um dos maiores mitos do futebol brasileiro que é o Fla-Flu. Nelson Rodrigues dizia que há um parentesco óbvio entre o Fla e o Flu. Seriam os irmãos Karamazov do futebol. Amor e ódio. Eu, por mim, vivi uma juventude atormentada pelo "frisson" dos jogos entre Botafogo e Fluminense. Era o chamado "clássico vovô". A manchete dos jornais exaltava cada batalha entre os dois mais antigos rivais do futebol carioca. O Fluminense era um pesadelo na vida dos outros times. Tinha mais títulos. Tinha mais nobreza. Os outros tinham escudo. O Fluminense tinha brasão.

Por favor, não queiram ver no flagelo do Fluminense apenas um time de futebol agonizando às portas do inferno. Estamos vendo consumir-se nas chamas de um longo martírio muito mais que uma simples equipe. São centenas de troféus. São vitrais de três cores mágicas a filtrar a luz de tantas glórias. O Fluminense é um hino. É um sonho de menino.

Mário Lago diz que há muito tempo o Fluminense saiu de suas cogitações existenciais. Do alto de seus oitenta anos, tem todo o direito de ignorar o presente do clube. O tempo passado enche de glórias seu bravo coração tricolor. O Carlinhos é que não tem. O Carlinhos, um garoto de 14 anos, ainda tem muito que palpitar, coração na mão, por seu clube tantas vezes campeão. O Fluminense precisa de seu amor. Mesmo que, agora, Carlinhos não tenha coragem de aparecer no colégio vestido com a camisa do Fluminense.

Bem que ele podia mudar de colégio. Chegaria lá, cara nova, metido no uniforme do Vasco da Gama, que é o time da moda no Rio. Carlinhos seria até festejado.

Mário Filho dizia que é mais fácil mudar de mulher que mudar de clube. Pois é esse o caso do Carlinhos. Ele não tem duas caras. Nasceu Fluminense e Fluminense há de morrer.

Pois é pensando no Carlinhos que escrevo sobre o drama do clube tricolor.

Se o Fluminense acabasse, de vez, o mundo ficaria sem graça pro Carlinhos.

Ele não pode, nem quer virar Flamengo, nem Botafogo, nem Vasco. O sentimento clubístico é mais forte que o sentimento patriótico. A criança descobre o clube do coração antes de descobrir a própria pátria. Carlinhos aprendeu a cantar o hino do Fluminense muito antes de aprender a cantar o Hino Nacional. Antes de ouvir falar em Brasil, Carlinhos já ouvia o pai repetir, dia e noite, debruçado no berço: Flu-mi-nen-se! Essa é a voz que lateja nas entranhas de Carlinhos.

O Fluminense é hoje uma paixão golpeada no coração de Carlinhos."

(Armando Nogueira)
Armando Nogueira, era botafoguense nascido em Xapuri, no Acre, em 14 de janeiro de 1927, e foi com certeza um dos grandes nomes da crônica esportiva brasileira. Na minha humilde opinião considero "A voz que lateja" sua obra-prima, mas tbm me emociono ao ler diversas outras crônicas deste monstro sagrado. Destaco algumas frases marcantes:

"A tabelinha de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus."
(sobre a troca de passes entre dois outros gênios)

"Choremos a alegria de uma campanha admirável em que o Brasil fez futebol de fantasia, fazendo amigos. Fazendo irmãos em todos os continentes."
(sobre a conquista da Copa do Mundo de 1970)

"Deus é esférico."
(sobre a sagrada bola de futebol que arrebata multidões de emoção)

"Heróis são reféns da glória. Vivem sufocados pela tirania da alta performance."
(sobre os heróis do esporte)

"No esporte, como na vida, não existem vitórias nem derrotas definitivas."
(sobre triunfos e reveses)

"O futebol não aprimora os caracteres do homem, mas sim os revela."
(sobre a relação entre futebol e caráter)

"Para Garrincha, a superfície de um lenço era um latifúndio."
(sobre a incrível arte do drible de Mané Garrincha)

"Para entender a alma do brasileiro é preciso surpreendê-lo no instante de um gol."
(sobre o momento sublime do futebol)

No céu, ele está acompanhado de muita gente boa. O grande Nelson Rodrigues, o profeta tricolor, por exemplo, imagine como será a resenha no ceú. Pois uma das frases mais espetaculares de Nelson foi uma resposta a Armando, na histórica mesa-redonda da TV Rio: "O video-tape é burro!".

Q Deus o tenha em bom lugar, seus comentários e textos brilhantes farão muita falta, diante dessa nossa crônica esportiva besta, óbvia e sem cultura q temos hoje em dia.

"Vamos Fluzão, Vamos Ganhar"

Saudações Tricolores,

2 comentários:

Rodrigo Pinto disse...

Bela homenagem a Armando Nogueira.
Mas eu queria mesmo era saber o que vc acha do Cuca?

Rodrigo Pinto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.